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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Simplesmente Dinah - 2ª parte - A lagrima na camisa

Quem quiser acompanhar o começo, espie aqui

Dinah brincava com a batata frita, perdida em seus pensamentos, tentando não se concentrar no movimento provocante da mão de Lucas em suas pernas, por baixo da mesa. Tentava ignorar o arrepio que sentia ao ouvir a voz dele baixinho em seu ouvido. Queria ser lógica, racional, mas o amor que sentia por aquele homem era quase insuportável, irresistivelmente perigoso, ela sabia. Forçou-se a lembrar da conversa que tiveram há três dias, ali mesmo, na praça de alimentação do shopping.

- Lucas, por favor, largue essa cerveja. Puxa vida, eu já pedi para você não beber quando estiver comigo.
- Eu sei, amor, mas é só um gelinho, você sabe que de vez em quando eu gosto de tomar minha cervejinha. Você não bebe, eu entendo e aceito isso, por que você não aceita também que eu beba?
Dinah respirou fundo. Já sabia onde aquela conversa iria parar.
- Você não acha que eu já aceito coisa demais, Lucas? Eu só pedi pra você abrir mão de beber enquanto estiver comigo. Eu abro mão de tanta coisa por você.
- De que, por exemplo?
A pergunta soou extremamente provocativa. Lucas queria derrubar Dinah, queria que ela falasse, brigasse, esperneasse. Será que ele queria vê-la chorando? Que prazer ele tinha em fazer aquilo?
- Você sabe muito bem do que estou falando. - respondeu Dinah com os olhos presos aos dele, quase desafiadora, quase convencendo a si mesma de que não entregaria os pontos.
- Você não estaria me cobrando nada, estaria?
Pausa. Olhar fixo na escada rolante. Unhas encravadas nas próprias mãos. O ar chegando aos pulmões com dificuldade.
- E quem sou eu pra te cobrar alguma coisa, não é? Eu não sou ninguém.
- Ah, bem... - respondeu Lucas percebendo que conseguira desestruturar Dinah. - Você me conhece há anos, sabe que tem que ser assim, meu amor, não tem jeito. E pára com esse papo de que não é ninguém, você é o meu amor... o meu grande amor.
Antes que pudesse engolir o choro, Dinah deixou que Lucas a envolvesse nos braços e apoiou a cabeça em seu ombro, destruída.

"Dessa vez você não vai conseguir". Pensou consigo mesma, deixando a raiva se sobrepôr à delícia dos carinhos do homem ao seu lado. Agora os lábios dele passavam devagar pelo pescoço, naquele movimento que ela conhecia tão bem, podia escutar sua respiração suave e sentir o cheiro amadeirado de seu perfume.
- Lucas, pare com isso, as pessoas estão olhando.
Na verdade ninguém estava olhando, mas Dinah parecia sentir que o shopping inteiro estava apontando o dedo para ela, indignados principalmente com sua permissividade, com a falta de firmeza e amor próprio que ela estava demonstrando. Não podia ser fraca, precisava dar um basta naquilo. Buscou um pouco mais de força nas suas memórias. Parecia que ainda podia sentir a dor e a marca de dedos em seu rosto, depois daquele tapa da mulher que Dinah ainda não sabia de onde tinha saído.

- Vagabunda!
Os olhos da mulher expressavam um ódio que Dinah jamais vira em sua vida. E todo aquele ódio vinha assustadoramente na sua direção. Estava perplexa, nunca havia levado um tapa daqueles. Seu rosto doía, mas não tanto quanto sua alma. A dois passos, Lucas olhava a cena assustado, enquanto a mulher gritava sem parar, ameaçando esbofeteá-la novamente. Antes que fosse atingida, segurou o braço da mulher que vinha na sua direção, impedindo a nova agressão. Uma pequena multidão de curiosos começava a se formar em volta, quando Dinah lançou para Lucas um olhar significativo e voltou-se novamente para a mulher, gritando ainda mais alto que ela.
- Ei, cala a boca.
A mulher não parecia intimidada com o grito de Dinah, mas calou-se por um segundo. Tempo suficiente para ouvir as breves palavras:
- Eu não te conheço, me deixa em paz.
- Fica longe do Lucas, senão eu arrebento você.
- Eu já estou longe dele... pra sempre.
As últimas palavras foram firmes o suficiente para convencer a mulher, que lançou-lhe um olhar triunfante e falou baixo:
- Acho bom mesmo. Porque se eu te pego de novo com ele, vai ser muito pior pra você.
Dinah entrou no primeiro ônibus que viu. As lágrimas agora corriam por sua face sem pudor, não precisavam mais se esconder. Jurou a si mesma que cumpriria aquelas palavras e que nunca mais traria Lucas de volta para sua vida. Um ódio mortal tomou conta de sua mente quando sentiu alguém pôr a mão em seu ombro, a última coisa que queria era ser incomodada em sua dor, mas ao virar-se, seus olhos ainda embaçados de lágrimas surpreenderam-se com a imagem de Lucas parado à sua frente. O olhar mais terno do mundo.
Pararam perto do apartamento que sempre se encontravam. A expressão de Dinah era intrigante, e a de Lucas era envolvente. Quando ficaram sozinhos, Lucas enxugou carinhosamente as lágrimas de Dinah e beijou seu rosto ainda dolorido com todo cuidado.
- Aquela mulher é louca, meu amor. Há algum tempo ela cismou que estava apaixonada por mim e agora vive por aí me seguindo, eu não imaginava que ela fosse chegar a esse ponto. E não queria te preocupar, por isso não te contei nada.
- Pára! Eu não acredito em nada que você fala, você é um mentiroso cretino. Eu odeio você, Lucas, nunca na minha vida eu imaginei passar por uma humilhação dessas.
- Mas meu amor, se eu estivesse mentindo, você acha que eu teria deixado aquela louca lá gritando sozinha e teria entrado no mesmo ônibus que você? Se eu tivesse alguma coisa com ela teria ficado lá, te procuraria depois pra inventar alguma desculpa. Acredita em mim, meu amor. Não me abandona, por favor, eu te amo mais do que tudo nessa vida.
Dinah terminou de enxugar o rosto e olhou fundo nos olhos de Lucas. Viu tanta sinceridade nas palavras dele, que não resistiu aos braços de seu amado que a envolviam, deitando a cabeça em seu ombro para descansar e entregar-se a mais um momento de paixão intensa.

"Isso já faz mais de seis meses" - Pensou Dinah enquanto sentia o gosto do beijo de Lucas. Suas línguas brincavam deliciosamente dentro de sua boca. - "Nunca mais tive notícias daquela mulher".
Quis parar o beijo, mas não teve forças. Uma mistura de emoções tomavam conta de sua mente: Tristeza de estar submetida àquela situação; o alívio confortante que sempre sentia nos braços de Lucas; a culpa por estar enganando alguém que ela sequer conhecia. Mas o maior de todos os sentimentos era a revolta consigo mesma por estar sendo tão fraca.
Terminado o beijo, Lucas acariciava seus cabelos com cuidado, enquanto Dinah mantinha a cabeça encostada no ombro masculino. Sentiu os olhos marejarem enquanto se lembrava da noite anterior, e do que tinha lido antes de dormir.
E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.
Romanos 8:28

E ainda deitada nos braços do inimigo, implorou a Deus que a livrasse daquela situação: "Deus, o Senhor sabe que eu tentei sozinha, que eu travei uma guerra comigo mesma e com os meus sentimentos. Mas olha só o resultado. O que eu posso fazer sem o Senhor? Olha como sou fraca e estupidamente apaixonada! Eu sei que a decisão é minha, Deus não vai azer aquilo que é da minha atribuição, mas... faça por mim, Senhor, aquilo que eu não posso fazer!
Ainda com lágrimas nos olhos, Dinah olhou para o celular sobre a mesa que anunciava: MENSAGEM RECEBIDA. Antes que pudesse alcançá-lo, Lucas adiantou-se em ler silenciosamente a mensagem:

Boa tarde, linda. Adorei te conhecer. Se não for muita ousadia minha, quando estiver de novo aí na cidade, gostaria de vê-la. Grande abraço.

Dinah não sabia o conteúdo da mensagem, mas pela expressão de Lucas, percebeu que não era nada bom. Inconscientemente, baixou os olhos e pousou em sua camisa, deparando-se com a marca da lágrima que havia deixado. E entendeu. Aquela lágrima comoveu o coração de Deus em seu favor. Fosse o que fosse na mensagem de celular, Dinah sabia que era resposta de oração. Sentiu alegria e alívio, mas não conseguiu demonstrá-los. O olhar de Lucas era amedrontador, e ela sentiu que suas lágrimas não o comoveriam desta vez, mas pouco importava. Estava disposta a assumir as consequências da decisão tomada através da lágrima deixada na camisa.




Espero que tenham gostador, pessoal. Até a próxima!


 

10 comentários:

  1. O conto está fluindo naturalmente e percebi desde o primeiro momento que ele não é imparcial, ou seja, ele é bem bíblico o que não atrairá descrentes mais radicais, no entanto, é como me disseram, o conto é seu e você não tem que explicar nada.
    Eu estou me focando na história em si e este episódio deixou certas indagações: Seria Lucas casado? Dinah voltara para ele e, pelo conteúdo da mensagem deu para perceber que ela também o estaria traindo...
    Isto é muito importante, deixar indagações ao leitor e isto você está fazendo muito bem. Parabéns Valquiria!

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    1. A crítica será bem aproveitada, Christian. Gosto disso, e por isso estou encantada com a blogosfera: A opinião dada com respeito dada pelas pessoas. Meu conto tem sim um queda pro bíblico por causa da personagem, ela precisa disso!

      Quanto às indagações deixadas ao leitor...Vindo de vc... fico super orgulhosa em saber que estou fazendo direitinho, obrigada pelo elogio.

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    2. O Flávio só veio a confirmar a minha opinião e acredito que não estejamos errados. Você sabe sim, elaborar muito bem seus escritos. Já pensou em um livro ou está elaborando algum?
      Sobre o Bloinquês, eu também conheci há pouco tempo, eles fazem um concurso por semana e você escolhe o tema. Eu ia escrever o conto, porém, o prazo expirou e me restou a opinativa e as cartas, como da primeira vez só eu participei do opinativa, achei sem graça. Não era uma vitória.
      Algo que queria mencionar também a respeito da moderação de comentários, é que ela não serve somente para comentários ofensivos, mas para que você tenha um maior controle do que possa receber, spams, propagandas que possam vir a poluir o seu blogue ou, até mesmo, facilitar sua interação com outro blogueiro sem expor "a conversa" de vocês.
      Por exemplo, eu li uma postagem e fiz uma crítica (isto realmente aconteceu), como o proprietário do blogue não gostou da minha crítica, não a publicou por também ter os comentários moderados e esclareceu os motivos para mim. Ninguém leu, ninguém viu, ficou tudo em off.
      Na web, certos assuntos precisam ficar em off para que pessoas não agridam a dignidade de outras, mesmo que sem querer, afinal, isto aqui fica registrado para muita gente.
      Bom final de semana.

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  2. Não consegui ver a primeira parte, mas gostei da segunda parte. O cara é bem canalha, na minha opinião, não serviria prá mim nem aki nem na China (kkkkkkkk). Bjão. Fique com Deus. Luciana Souza.

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    1. Eh, Lu... Tem coisas que só o amor explica rsrsrrss
      Pra mim ele também não serviria ;)

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  3. O Christian tirou as palavras da minha boca, opssss, do meu teclado...
    Na minha opinião, um dos aspectos fundamentais para o sucesso de uma trama no estilo que você está construindo é, sem dúvida, deixar o leitor cheio de pontos de interrogação na cabeça. A curiosidade, inerente no bom leitor, motiva o mesmo a te visitar sempre tentando achar explicações e montar o quebra-cabeças.
    A riqueza de detalhes na descrição da cena inicial foi absurdamente bem montada, fazendo com que automaticamente visualizasse a cena.

    Abraços, Flávio.

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    1. Obrigada, Flavio. Confesso que tentei seguir as dicas que vocês me deram lá no face, e estou contente por ter encontrado esse grupo, tenho certeza que vai me acrescentar muito.

      Gde abraço, e volte sempre!

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  4. Eu amei a história , muito melhor do que muitos livros que eu já li ! Me emocionei com a história de Dinah , e fiquei com raiva daquela mulherzinha que bateu nela ! heheheh mas Deus sempre está conosco em todos os momentos, sejam eles qual for. Liiindas suas palavras, quero mais dessa hein! Já pensou em fazer um livro? Eu concerteza compraria. Beijos // www.spiderwebs.tk

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    1. hahaha vou acabar me convencendo a largar a faculdade e investir em um livro, rsrsrrss

      Que bom te ver por aki, linda. Continue acompanhando a história de Dinah, não vejo a hora de as coisas começarem a dar certo pra ela, rsrsrs

      Bjinhussss

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Que bom que você leu o post até o final, sinal de que não era tão chato assim, neh? Seu comentário é muito importante para mim, não saia sem deixar um Oi, para eu saber quem veio me visitar. Sempre que posso, retribuo as visitas. Bjokas da Val!

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