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segunda-feira, 26 de março de 2012

Simplesmente Dinah - 3ª parte


- E depois, o que aconteceu?
- Ele jogou meu celular no chão, gritou... Foi um papelão, Anny – Dinah deu uma pausa e engoliu rapidamente o restante de café em sua xícara – Ele disse que eu nunca encontraria um homem como ele.
Dinah parou de falar e esperou o comentário sarcástico que provavelmente viria da amiga, que não só comentou como deu uma longa risada antes:
- Tomara mesmo que você nunca mais encontre um homem como Lucas na sua vida, seria muito azar.
Dinah sorria, mas seu sorriso estava triste. Desejava de todo coração estar feliz e não se entregar à tristeza que lhe corroia a alma, e tentava desesperadamente disfarçar seu verdadeiro sentimento. Fazendo ar de mistério, soltou a frase que a amiga tanto queria ouvir:
- Eu quase não descubro o que tinha naquela mensagem.
Anny tirou mais uma vez os cabelos do rosto, prendendo-os irritada com uma caneta, e inclinou-se para frente em direção a Dinah, como quem não quer perder nenhum detalhe:
- E o que tinha?
Dinah, por sua vez, olhou em volta e certificou-se que os colegas de trabalho estavam entretidos tomando seus cafés e não prestavam atenção à conversa.
- Lembra que comentei sobre o rapaz do ônibus?
- Renato, não é?
- Exatamente. A mensagem era dele, acredita? Quer me ver quando estiver na cidade.
- Uiii... - brincou Anny antes de um sorriso comprometedor.
- Não seja abusada. - Retrucou Dinah franzindo o cenho. - Fiquei mega confusa.
Percebendo o pedido de socorro na expressão da amiga, Anny adotou um ar menos brincalhão e falou gentilmente:
- Dinah, qual o problema de um rapaz querer te ver?
- O problema é o Lucas, ora bolas.
- Ahh!!! - o quase grito nervoso de Anny despertou a atenção de Bruno, que tomava seu suco natural em outra mesa da copa. Virando-se com ar divertido, recomendou:
_ Anny, não brigue com minha pequena, viu? Dinah, se ela te fizer chorar é só me dizer.
Dinah inclinou a cabeça, encostando-a no próprio ombro, sorrindo para Bruno. Sempre fazia aquele gesto quando queria se fazer de fofinha e indefesa, o que geralmente surtia um efeito bastante simpático em seus destinatários.
- Não se preocupe, Bruno. Hoje eu até mereceria apanhar mesmo, mas não é o caso. Se precisar, com certeza eu te grito.
Bruno devolveu o sorriso recebido e voltou sua atenção para a conversa de sua própria mesa, entendendo que as garotas precisavam de privacidade.
- E merece mesmo. - falou Anny, dessa vez com a voz baixa. - Onde já se viu uma coisa dessas, amiga? Você precisa se livrar de vez desse homem, ele te faz muito mal.
- Eu sei disso. Aliás, eu já me livrei desse homem. - respondeu enfatizando a palavra "já".
- Então, vamos começar de novo... Qual o problema de aquele moço super interessante, pelo que você contou, querer te ver?
Dinah soltou um profundo suspiro e olhou para sua xícara, já vazia, passando o dedo pela borda enquanto buscava as palavras certas a dizer.
- Não quero criar expectativas e nem pensar em me envolver agora. Esse lance com o Lucas ainda está tão recente, não ficou bem resolvido. Ele saiu, me deixou falando sozinha e até agora não conversamos, eu ainda não senti o ponto final da história e não quero ter a sensação de que estou traindo o Lucas.
- Traindo... Como se ele merecesse alguma consideração.
- Eu sei que não merece, mas isso não combina comigo, você sabe muito bem.
- Essa situação com o Lucas também não combina, e no entanto... quanto tempo já dura essa relação? Olha, Dinah, eu não quero fazer você se sentir pior do que já está, mas também não quero ver você se fazendo de coitadinha, para com isso, minha amiga!
- Ok. – Disse Dinah depois de uma pausa para engolir o choro. – Você está completamente certa, não sei o que seria de mim sem a sua amizade, Anny.
- Eu sei que é complicado mesmo, não estou dizendo que é fácil. Mas eu odeio te ver assim, amiga. Promete que vai cuidar desse coraçãozinho partido aí.
O olhar compreensivo de Anny tranquilizou a alma de Dinah, que sorrindo sugeriu que voltassem ao trabalho, seguindo o exemplo dos outros colegas que já haviam esvaziado a copa.

*        *        *

Lucas olhava com a visão embaçada um grupo de jovens passando no outro lado da rua. Já havia perdido toda a noção de tempo, mas algo lhe dizia que estava naquele bar tempo suficiente para ter gasto pelo menos a metade de seu salário em bebidas de todo tipo. Sentiu o estômago revirar e falou um palavrão, chamando a atenção do dono do bar.
- Meu amigo, que dia é hoje? - As palavras saíam da boca de Lucas descompassadas e muito devagar, quase cantadas.
- Terça-feira.
- E que horas são? – perguntou segurando o braço do homem que passava com duas garrafas vazias nas mãos.
- São três horas da manhã. Não acha que já está na hora de...
- Você conhece a Dinah? – interrompeu Lucas sem soltar o braço do homem.
- Não, meu amigo, eu não conheço.
- Pois eu vou te dizer quem é a Dinah.
Para quem estava atendendo pessoas bêbadas desde as vinte horas do dia anterior, o dono do bar parecia até paciente, ao ceder a pressão que Lucas fazia para que se sentasse ao seu lado.
- Dinah é a mulher mais linda que eu já vi em toda a minha vida. O beijo dela é o mais perfeito de todos, ela é a mulher que me fez mais feliz até hoje, sabia? Eu queria trazer ela aqui pra você conhecer, meu amigo. Você ia se apaixonar... que nem eu.
 O dono do bar fez menção de se levantar, mas foi novamente segurado pelo braço.
- Mas você sabe por que ela me deixou, amigo? Eu sou um fraco, eu não sou homem suficiente pra ela. A Dinah precisa de um homem de verdade, que tome uma atitude, entende? Que saiba o que quer e não fique enrolando que nem eu. Homem enrolado não presta pra nada, sabia?
O triste relato foi interrompido pelo toque do telefone de Lucas, para o alívio do dono do bar, que aproveitou para pegar o copo vazio sobre a mesa e se abrigar atrás do balcão, onde os bêbados nunca chegavam.
- Já estou indo. – Ouviu Lucas dizer antes de desligar o telefone, pagar a conta e sair deambulando com dificuldade até o final da rua.

*        *        *

Renato segurava a porta aberta atrás de si, perplexo. Não chegava a se sentir assustado, mas a visão que teve ao chegar em seu apartamento era, no mínimo, intrigante, não fosse ele quem fosse. Móveis revirados, janelas e espelhos quebrados, roupas, livros e outros objetos espalhados pelo chão. Renato sabia que mais cedo ou mais tarde seria encontrado, e de certa forma já esperava por aquela visita. Ainda segurando a maçaneta da porta com a mão esquerda, pegou com a mão livre o celular no bolso e discou um número na agenda. Ao segundo toque foi atendido, e com breves palavras informou:
- Eles vieram aqui.

8 comentários:

  1. Oi Val
    Tá ficando cada vez melhor essa história eih?! Espero que tenha um final feliz. Eu conheço muitas Dinazes por aí, tem um dedo torto para homens, ainda bem que eu acertei na primeira, como eu sempre digo, o Marcos é quase um "santo", mas tbém não conseguiria conviver com alguém que não me respeitasse.
    Bjão, uma ótima semana.
    http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com.br

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    1. Eh, amiga... a pobre Dinah tem dedo podre pra homem mesmo, mas eu ainda tenho fé que Deus tem algo muito bom preparado pra ela \o/
      Muito bom q vc está gostando, amiga! Grande beijo!!!

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  2. Valquiria!
    Primeiro quero te agradecer o comentário lá no Humoremoconto! Adorei! Te achei super simpática e inteligente :)
    Li todo este post, com calma terei que me atualizar nos anteriores, mas agora dei uma escapadinha do trabalho (xiii, não conte para ninguém) haha!

    Gostei da tua escrita, achei fluente, do tipo que queremos ler a próxima linha, achei a Dinah, uma personagem bem-construída e que se percebe no quotidiano, alguém comum,mas que colocas aqui com outras facetas, o que achei bem interessante, e deu para "entrar" no teu texto!
    Bacana, gostei!
    E estou seguindo teu blog também, claro!

    Um beijão para ti, teu prícipe lindo (que filho lindo!) e tenham um ótimo dia :)

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    1. Seja muito, muito, muito bem vinda, Cissa. É uma honra recebê-la no meu humilde espaço e fico feliz que tenha gostado, volte sempre =)

      E se te consola... também estou dando uma escapada no trabalho...
      QUE COISA FEIA, HEIN???

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  3. Olha a Dinah...uma mulher de coração partido, mas que faz lembrar a todas as outras mulheres e seus coraçoes partidos. Isso ai da um belo romance que farei questão de acompanhar. Parabéns pelo prêmio, e continua ativona na blogosfera. Um beijão

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    Respostas
    1. Saudades, grande Victor!!! Que bom ver vc de volta, querido.
      E fico feliz também que vc esteja gostando da história, o elogio é uma honra, vindo de você.

      Obrigada sempre pela visita, comentário e principalmente pelo incentivo. Bjus

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  4. Oi Val
    Estou passando novamente aqui prá te convidar a passar no meu blog, é que estou participando de um meme de perguntas e escolhi o seu blog dentre outros para participar também, se você quiser.
    Bjos.
    http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com.br/

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  5. Val, eu tive que reler o capítulo anterior para me situar novamente na estória. Se puder, seria interessante escrevê-la com mais frequência para quem a está acompanhando.
    A sua personagem Dinah é muito real e gosto de estórias e personagens assim, que retratam a realidade. Penso que ela seja um tanto ingênua, queira ser sempre bondosa e, com isto, acaba caindo no erro da vitimização, como a própria Amy destacou. Pessoas assim tendem a atrair pessoas manipuladoras como Lucas.
    Adorei o final, também tenho este hábito de deixar ao leitor um ar de suspense com o que irá acontecer adiante.
    Aguardo mais episódios desta novela.
    Boa semana parceira!

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Que bom que você leu o post até o final, sinal de que não era tão chato assim, neh? Seu comentário é muito importante para mim, não saia sem deixar um Oi, para eu saber quem veio me visitar. Sempre que posso, retribuo as visitas. Bjokas da Val!

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