A aprendiz
Ela havia
se preparado durante anos para aquele momento. Enquanto caminhava sozinha pela
floresta, Valquíria lembrava-se do que seu mestre lhe dissera antes de mandá-la
ali: Siga sempre em frente, não volte.
- Que
conselho idiota! – Ela pensou quando se sentou encostada a uma árvore e abraçou
os joelhos dobrados, tentando escutar algum ruído diferente que fosse, buscando
uma pista de como sair daquele pesadelo que começava a minar suas forças.
- Calma, Valquíria,
você não pode entrar em desespero a essa hora – aconselhou a si mesma – já está
quase escurecendo e você vai passar mais uma noite aqui se não pensar com
cuidado.
Segurou com
força o medalhão que trazia no peito, fazendo uma prece silenciosa antes de
abri-lo. Ali estava o mapa que ela precisava, porém, o mesmo não lhe dava boas
noticias. Sabia naquele momento o caminho que deveria seguir, mas também já sabia
o perigo que a esperava. Não havia escapatória ou outro caminho, Svany a
esperava pacientemente na décima curva da trilha da mandala perdida.
Levantou-se
e começou a caminhar a passos largos em direção ao norte, levando o ar aos pulmões
devagar para tentar manter a calma. Sentia que todos aqueles anos de
treinamento com Hilbert não a haviam preparado o suficiente para aquele momento,
a vida real. A mochila que carregava nas costas foi tornando-se mais leve à
medida que se aproximava a noite, e Valquíria respirou aliviada: Não daria
tempo de chegar ao grande confronto naquele dia e, embora soubesse que o mesmo
era inevitável, agradeceu ao universo o fato de poder dormir e renovar suas
forças antes de tudo finalmente acontecer.
Logo que
avistou um local propício ao sono, abriu a mochila para verificar o que Hilbert
havia lhe mandado: Uma capa. Olhou confusa para o objeto e revirou a mochila de
ponta à cabeça, em busca de um travesseiro confortável e um cobertor quentinho.
- Uma
capa, Hilbert? Só isso? – gritou no meio do nada.
Após jogar
o pedaço de pano com capuz sobre a mochila, imaginou que Hilbert deveria estar
rindo dela naquele momento, enquanto ela amontoava folhas e mais folhas que
pudessem amortecer pelo menos um pouco do desconforto que seria passar a noite
naquela clareira.
- Podia
ao menos ser feita de lã. – resmungava consigo mesma enquanto jogava a capa
sobre os ombros para sentir o quanto estaria protegida do frio, quando se
deparou com a grande surpresa que seu mestre lhe preparara: todo seu corpo do
ombro para baixo havia desaparecido. Com os olhos arregalados, Valquíria abriu
os braços e ficou olhando para o vazio abaixo de seus olhos. Tirou a capa e
observou seu corpo ali de volta. Tornou a se cobrir até a cabeça e deu uma
risada.
- Esse
meu mestre é mesmo maravilhoso! – disse Valquíria enquanto imaginava como seria
fácil passar pela trilha sem ser notada por seu inimigo. Parecendo uma criança
na chuva, começou a rodar com os braços abertos, agradecendo pelo presente que,
agora ela reconhecia ser muito melhor do que uma cama King Size de última
geração com travesseiros de pluma de ganso.
No meio
de sua empolgação, não fosse seu sentido auditivo bem treinado, teria deixado
de ouvir os passos que se aproximavam. Em estado de alerta, Valquíria cobriu-se
com a capa e espreitou-se junto ao rio que corria ali perto. No meio da escuridão,
só conseguiu enxergar o vulto daqueles seres quando já estavam a uma distância razoável. Um pequeno exército de centauros aproximava-se
do acampamento improvisado, atraídos provavelmente pelo cheiro humano de Valquíria.
Sentiu o
coração começar a acelerar e receou que os seres o escutassem e a descobrissem
ali sob sua capa. Através de exercícios próprios, fez com que o coração e a respiração
parassem pelo médio espaço de tempo em que os centauros vasculhavam a área. Também
esvaziou sua mente de qualquer pensamento, ciente de que eles também tinham uma
audição aguçada como o olfato.
Valquíria
percebeu um deles chamando os demais por código para retornarem à base. Quando viu
que já estavam longe, lembrou-se de como achava entediante as aulas de dialetos
e códigos místicos. Ainda bem que Hilbert pegou no meu pé, falou em voz baixa,
enquanto acomodava-se na cama improvisada ainda vestida com a capa que, além de
torná-la invisível, era magicamente quentinha e confortável.
O dia
clareou algumas horas depois, fazendo Valquíria despertar e tornar novamente alerta
os sentidos. Aquele era o grande dia, o primeiro de seus grandes desafios. Levantou-se
e olhou para si: Seu corpo estava totalmente à mostra e a capa de
invisibilidade havia desaparecido. Valquíria olhou em volta e soltou um longo
suspiro: Seria bom demais para ser verdade – entendendo qual o propósito do
objeto mágico enviado por seu mestre.
Acontece que
ela precisava de proteção naquele momento de escuridão e incertezas. Seu inimigo
Svany era astuto e infame o suficiente para mandar seus guardas à procura de Valquíria
e pegá-la de surpresa durante a noite. Mas o confronto não poderia ser evitado,
fosse pela covardia de Svany ou pela tentativa de “dar um jeitinho” de Valquíria.
E ela entendeu, não adiantava se esconder sob uma capa ou procurar no mapa um
caminho mais fácil. Ela precisava enfrentar o que estivesse em seu caminho e
para isso, sabia que sua mochila estaria sempre abastecida das armas e
suprimentos de que necessitaria para tanto.
Que legal e adoro ler teus escritos!Parabéns pela inspiração! Enfrentar a vida e seus traçados sem se esconder, de peito aberto... Legal! bjs, tudo de bom,chica
ResponderExcluirQue bom que você também está participando do Desafio!
ResponderExcluirE que bom que postou mais um conto! Realmente gosto de ler o que você escreve (e não esqueci do livro, cuja devedora é você, rs)!
Fico aguardando mais novidades!
Beijos!
Menina, acho que você tem um talento e tanto viu?
ResponderExcluirVê se escreve um romance de aventura porque eu adoro livros desse tipo, e viraria sua fã numero 1 kkkkk.
Muito obrigada por participar do desafio!
beijos.
Sensacional. Amei.
ResponderExcluirEstou te seguindo.
Carlos Hamilton
http://www.mesadeconversa.com
Abraços
Adoreiiiii isso sempre em frente voltar jamais.
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